domingo, 29 de setembro de 2013

Posts nossos de todos os dias...



Eu sempre me interessei mais por posts em que a pessoa abre a alma e o coração sem medo de parecer fraca e ridícula. São poucos os blogueiros que tem essa característica de escrita, mas conheço alguns bons nisso. No entanto o que mais percebemos nos blogs é o que permeia as redes sociais, talvez menos um pouco nos blogs, mas acontece bastante também. Uma tendência a exaltar a felicidade. Vivemos numa sociedade de felizes. Já repararam que todos estão sempre muito engraçados, muitos apaixonados, se divertindo muito e  envolvidos em grandes causas? Onde estão as pessoas insatisfeitas? Onde estão as pessoas que estão batalhando por dias  melhores? Às vezes, ou quase sempre, tudo me soa muito falso, muito estilo "vitrine".

Não, eu não estou dizendo que não ajo assim. Todos nós somos influenciados por essa onda feliz que assola a nossa sociedade. Precisamos o tempo todo estarmos bem para sermos aceitos (foda-se a aceitação!!).  Volta e meia me pego deixando de fazer um post triste por receio daquilo não ser entendido, ou não ser bem recebido, ou não ser admirado, sei lá. Sim, somos tolos e meio carentes, todos nós que nos expomos, seja em blogs ou seja onde for. Buscamos a resposta do outro de alguma maneira, e nunca esperamos uma resposta ruim. Todos nós, ultimamente, vivemos com medo de nos mostrarmos carentes, desanimados, com vontade de desistir. Desistir é uma palavra que não cabe na nossa sociedade atual. Só existe tentar, tentar e tentar, mesmo que não se veja chance o importante é nunca desistir.

Claro que não estou fazendo apologia ao derrotismo!! Não acho que a gente deva alimentar pensamentos negativos, só acho que não devemos nos envergonhar deles e escondê-los a sete chaves, como se as outras pessoas todas tivessem vidas fantásticas e só a sua fosse uma merda. Sim, tem momentos de ser rir das próprias desgraças, momentos de enfrentá-las e tentar mudá-las e momentos de sentar e chorar simplesmente. Que mal há nisso? Sim, parece que há muito mal nisso, afinal não dá ibope, não rende nas redes sociais. E se tu fizer um post triste vem logo a turma do deixa disso.

Como disse acima, sempre vou admirar um texto sincero, talvez não admire um texto derrotista, nem um otimista em excesso, mas quando percebo que ali tem uma pessoa dizendo o que pensa de verdade e não se colocando numa vitrine de felicidade, ou num muro de lamentações, certamente terá o meu maior respeito.

De 2010 para cá, mais especificamente após a mal sucedida cirurgia da minha voz, percebi que fui me modificando muito, modificando meu jeito de lidar com as pessoas e essa modificação me trouxe perdas, umas importantes, outras nem tanto. Costumo dizer que quem me conheceu a partir de 2010 conheceu uma pessoa diferente do que sempre fui. Não gosto disso e estou procurando caminhos novos, soluções para que  consiga retomar a pessoa que era e que gostava, já que nunca me acomodo em situações desconfortáveis. É certo que nesse período cresci como ser humano, certos sofrimentos nos fazem ver outros lados e outras possibilidades que antes a gente estava meio cego. Mas mesmo assim, mesmo com ganhos, acho que minhas perdas foram maiores e costumo enfrentar tudo sempre muito de frente, sem ficar maquiando as coisas para mim mesma.

E para finalizar esse texto, etapa e tudo mais, dizem que quando os animais vão morrer eles se escondem. Não sei muito bem se isso procede, mas aconteceu com um cachorro que tinha. Talvez  traga isso dos animais, não que eu vá morrer... rs... mas se não me sinto bem me recolho num canto. Não sei se essa é a melhor saída, mas certamente é a que me traz resultados. Fico mais para a lagarta que entra no casulo com a finalidade da metamorfose, mesmo que nem todas as lagartas virem borboletas... rs.

domingo, 22 de setembro de 2013

Bissexualidade...



Não é novidade para muita gente que eu gostaria de ser bissexual. No entanto, sei que isso vai ser difícil, pois já tentei transar com mulheres antes e depois da mudança do meu corpo e não rolou tesão da minha parte. Não foi de todo ruim, mas não posso dizer que foram relações sexuais satisfatórias. Gosto do beijo feminino, mas nunca me encantei por uma mulher a ponto de querer namorar ou algo semelhante. Mas é algo que gosto de deixar em aberto. Detesto me sentir fechando questão, gosto de poder mudar de opinião quando um novo caminho ou pensamento me parece melhor. E em relação a sexualidade funciona do mesmo jeito.

Fico imaginando que deve ser muito bom ser bissexual, posso até estar fantasiando a coisa. Imagina a gente se cansar de todas as manias de um sexo e simplesmente querer descansar de ter relações com ele e pular para o outro sexo? Deve ser bom, gente! Claro que estou colocando a coisa de uma forma muito simplista, que cada bissexual deve sentir de um jeito, ter mais preferência por um dos sexos. Mas, no geral, ele joga com mais com mais possibilidades de relacionamento.

Dia desses conversando com amigo no Skype, numa conversa bem reveladora, por isso não coloco o nome dele aqui... rs... conversávamos sobre isso; e num determinado momento disse a ele que acreditava mais quando uma mulher me diz que é bissexual do que quando é um homem. Acho que a mulher se sente mais livre para experimentar uma outra mulher, sem que isso vá ferir sua moral e princípios como acontece com os homens. Creio que para os homens isso se processa de uma forma muito mais pesada, com mais culpas, mais posicionamentos sociais complicados. O homem quando experimenta uma relação homossexual conscientemente, isso já foi muito pensado, já teve que pular mil barreiras internas, vencer o seu machismo, e a tortura do que os outros vão pensar. Então quando vai, certamente é porque tem a convicção íntima de que prefere os homens mesmo. Por isso não é incomum, ver homens que tinham uma vida hétero, num determinado momento ultrapassar a barreira da homossexualidade e simplesmente não voltar a ter relações com mulheres. Podemos dizer que esse homem é bissexual? Prefiro acreditar que num determinado momento assumiu para si mesmo sua homossexualidade e parou de se enganar.

Nessa linha de raciocínio vejo muitos homens se dizendo bissexual. Mas o fato de conseguir ter relação com uma mulher, não significa ser bissexuais. Acho que ser bissexual é realmente estar aberto para ter um relacionamento com pessoas, independente de sexo.  Mas é claro que existem homens verdadeiramente bissexuais, só que, definitivamente, não são todos esses que se dizem ser. Para o homem, dizer que é bissexual é como estar num patamar superior, é como se fosse "menos grave" do que ser homossexual, segundo o olhar machista da sociedade. É como se tivesse afirmando que existe um lado macho dentro dele, que nem tudo está perdido, que tem como fazer o caminho de volta, algo nesse sentido. 

Já com as mulheres é um tanto diferente. Claro que as mulheres tem travas para se relacionar com outras, não vou dizer que é fácil e tal. Mas me parece que se a mulher sentir algo por outra, creio que tenha mais facilidade de ultrapassar suas barreiras internas e sociais. Pode ser que esteja enganada, dizendo uma grande besteira, mas parece que a mulher se permite mais experimentar outra mulher, gostar disso e mais tarde voltar a se relacionar com homens. Sem contar que a sexualidade da mulher é diferente, envolve um todo, geralmente não se resume ao ato sexual em si. A bissexualidade da mulher tem mais leveza, os homens até incentivam,  já que está ligada ao velho fetiche masculino de transar com duas mulheres.

Eu me dou melhor com os homens bissexuais. Parece que tendem a ser menos machistas, mais mente aberta, mais bem preparados para uma relação com uma mulher diferente. Tive alguns parceiros bissexuais com preferência para mulheres e certamente foram melhores do que os héteros em termos de mentalidade. Tenho um jeito muito peculiar de enxergar a sociedade, e os homens bissexuais que conheci tinham esse jeito, não sei se todos são assim, só falo pelos que conheci. Com isso não estou afirmando que as transexuais preferem os bissexuais, comigo é assim.

Concluindo, acho que tudo se resume no quanto você está aberto para os dois sexos. Tanto mais bissexual você será, quanto mais aberto estiver para se relacionar com pessoas dos dois sexo.

domingo, 15 de setembro de 2013

Não faço parte de...



Um dos temas do Saia Justa da semana que passou foi sobre inadequação. E sempre tiro alguns dos meus posts de programas que assisto ou textos que leio. Não creio que a palavra inadequação seja mais apropriada para definir o que sinto, acho que inadaptação tem mais a ver. Sempre me senti não pertencendo a grupo nenhum, mesmo que alguma característica em mim me colocasse dentro de algum grupo, mas, no meu íntimo e na vida, sempre fui um bicho solitário em essência.

Acho que muita gente se sente assim, meio que fora do contexto geral, mas muitas outras se sentem bem encaixadas e certamente sentem que estão pertencendo a alguma "tribo", grupo, segmento da sociedade. No entanto a parcela que se sente inadaptada não é pequena, embora só alguns realmente fiquem visíveis, como é o caso de muitos artistas, que escolhem a arte como forma de expressão e busca de aceitação para suas estranhezas.  Mas a verdade é que muitos dos que sentem não pertencer a lugar algum, sofrem com isso e não são recompensados com nenhum glamour.

No meu caso, não só a questão de ser transexual fez com que me sentisse uma estranha no ninho, mas colaborou bastante nesse sentido. Sei que muitos vão dizer que é besteira o que vou dizer, que sou uma mulher plena e tal (outros já acham que nunca serei uma... rs), mas a real mesmo é que não me sinto plenamente mulher no todo, embora tenha um corpo muito próximo do corpo de uma mulher, tenha uma vida feminina e uma mente feminina. Mas só isso não basta, falta o contexto de vida onde nunca fui inserida, não somos só o nosso presente,  somos o somatório de tudo, inclusive do nosso passado, que diz muito de como estamos hoje em dia. Sempre estive no limbo entre o masculino e o feminino. E a todo momento emocional, físico e de relacionamento, sempre tem uma situação por menor que seja que me lembra que esse limbo vai sempre existir. Começa pelo corpo; sei o que é ter um corpo plenamente masculino, mas não tenho o jeito de pensar dos homens, muita de suas atitudes e comportamentos me são estranhos. Já as mulheres, entendo a linha de raciocínio feminina, afinal sou mentalmente mulher, mas não entendo o corpo feminino, não sei como ele funciona. Tudo isso colabora para me coloca num limbo mental, não pertencendo completamente a nenhum dos lados. Talvez eu pense mais como um gay, mas sei que também não tenho uma cabeça de gay, muitos dos comportamentos e atitudes gays me são estranhos, do mesmo jeito que sinto em relação aos homens e às mulheres héteros.

Mas creio que talvez o que mais pese nessa minha inadaptação ao mundo seja a minha forma de pensar, que é diferente das mulheres no geral, diferente dos homens outro tanto e pior, diferente da maioria das(os) transexuais. E por mais que analise não creio que isso tenha ligação direta com nada do que vivi, embora em alguns aspectos tenha pesado. Mas o ponto crucial é  eu ter mesmo um jeito muito peculiar de ver a vida, os relacionamentos e as pessoas. E esse "não fazer parte de..." esteve presente desde minhas bases, na família que fui criada.

O que a maioria sonha em ter geralmente olho com tédio, o que poucos pensam em ter é importante para mim. O que muitos acham inaceitável, acho normal, o que muitos acham o certo, acho uma bobagem e por aí vai. Normalmente fico tentando me ver em situações que a maioria das pessoas dizem que é o máximo, super legal e por mais que me coloque ali, simplesmente não vejo graça alguma. Já em outras coisas banais que passam despercebidas para a maioria, ali está meu interesse. E aliado a isso tem um cansaço do desencaixe. Queria muito ver graça no que todo mundo acha interessante e divertido, queria dessa forma me inserir, pertencer a alguma tribo, mas por mais que tente é só frustração. 

Então de uns tempos para cá eu tenho chegado a conclusão serena que sou alguém que nasceu para caminhar em carreira solo mesmo. Sinto falta das pessoas, mas ao mesmo tempo elas me cansam muito. É estranho demais, tem momentos que busco a companhia dos outros, para logo em seguida buscar a solidão. É como se estar em contato com os outros me mostrasse o quanto não pertenço a lugar algum, daí eu retorno para mim mesma. 

Daí devem estar pensando que sou uma louca atormentada por todos esses pensamentos desencontrados. Mas a verdade é que não sofro tanto no meu íntimo atualmente, sofro só quando quero estar inserida e não consigo. Mas quando estou só comigo mesma, parece que isso é suficiente. Não que me baste, mas é que depois de tanto tentar buscar um grupo e não se sentir pertencendo a nenhum, a gente se  acostuma a viver só de uma forma que muita gente não consegue imaginar. A gente aprende a não sentir falta.

Sei que algumas pessoas não gostam quando faço posts desse tipo, onde exponho minhas feridas, até porque quando a gente expõe, volta e meia aparece um para cutucar... rs. Mas é que tanto aqui quanto na minha vida cotidiana as pessoas tendem, pela minha história de vida, a me ver como uma pessoa altamente bem resolvida, mas na verdade nada vem fácil, o movimento de todos nós é o de tentar aceitar o que não podemos mudar, sempre e sempre. E definitivamente até hoje não conheci alguém que fosse totalmente bem resolvido, acho isso uma grande fantasia, uma ilusão total. Todos temos nossas neuras e dificuldades e não vejo problema nenhum em assumi-las. É isso que nos torna verdadeiros e humanos.

domingo, 8 de setembro de 2013

A mulher madura fica invisível...


Ainda na vibe no post anterior, preciso dizer mais algumas coisas que percebi ao chegar aos 50. A mulher madura fica invisível aos olhos dos homens. Se você mulher quer saber se já está aparentando maturidade, veja se os homens continuam olhando para sua bunda, para seus peitos, se dão aquela olhada de cobiça, ou dão a famosa viradinha depois que você passa, se ainda falam besteiras para você. Se você não se descuidou e isso não está acontecendo mais, é porque você já está sendo vista como mulher madura.  

Toda mulher gosta de ser percebida, mesmo nas cantadas mais nojentas, fica algo de "Puxa eu ainda sou desejada". Mesmo não sendo bonita, porque definitivamente não sou, sempre chamei a atenção dos homens na rua, em algumas épocas mais, outras menos, mas sempre que saia tinham uns caras olhando, alguns falavam alguma coisa e tal, dependendo do dia, da roupa e tal. Mas tenho que confessar que de uns 3 anos para cá as olhadas e cantadas baratas diminuíram drasticamente e não foi porque embaranguei, até estou bem em forma, mas é por conta de aparentar os anos que se passaram. Pelo que as pessoas me dizem sempre aparentei uns 10 anos menos do que tenho. Então aos 40 eu ainda chamava muito a atenção dos homens na rua, na balada e tal. Mas acho que agora com 51 finalmente eu tenho cara de 40 e poucos... rsrs. E mulher madura é coisa que não faz sucesso visualmente. Percebam que passa uma baranga de 20 e uma mulher inteiraça de 50. Os homens vão olhar para a mulher de 20, é do homem buscar a mulher mais jovem, dizem que é meio instintivo isso.

Outro termômetro que mede se você está sendo percebida como uma mulher madura, é quando você não chama mais a atenção dos homens da sua idade, você passa a chamar a atenção de homens muito mais jovens ou muito mais velhos que você. Isso é fato. Acho que muito por conta disso as mulheres maduras tem ficado com homens mais jovens, porque é muito raro um homem de 45 anos querer ficar com uma mulher de 45, geralmente ele tá de olhos nas de 30... rs. Uma parte dos homens mais novos são desencanados com isso e se deixam encantar pela mulher mais velha, se ela estive bem fisicamente. O homem bem mais velho, lá depois dos 65 anos, esses olham para a mulher de 50, é o esperado,  já que ela é mais jovem  para ele, mas mesmo esses, se puderem escolher, vão querer a novinha.  

Certamente alguns homens devem sofrer com essa invisibilidade da maturidade, mas não da forma como se passa com as mulheres, com a gente a coisa é mais intensa e digamos que mais cruel. Talvez os homens que percebam isso semelhante às mulheres, sejam os homens gays.

Quando comecei a ficar invisível, fiquei me sentindo péssima. Saia para as baladas e os caras passavam batidos, parecia que eu era um espírito desencarnado ali... rs. Eu achei aquilo tão estranho, confesso que doeu muito no meu ego feminino. Não sabia o que fazer nem o que pensar daquilo, é algo que aparece meio que de repente mesmo, e a gente não sabe como veio, nem como lidar com aquilo.

Mas o ser humano é o ser mais adaptável do planeta, por isso ele domina isso aqui. E nos acostumamos a tudo, nos adaptamos a tudo, desde que estejamos dispostos a isso. De uns meses para cá,  assim que comecei a lidar melhor com minha idade, comecei a lidar melhor com a invisibilidade. Comecei a ver o lado positivo disso, que é não ter mais que estar no meu melhor sempre. Quando se é invisível podemos nos liberar para ser e fazer uma série de coisas que não fazíamos antes, pequenos prazeres que vão se somando e se tornam um grande prazer. Podemos sair sem maquiagem, porque tanto faz. Podemos sair com aquela blusa velhinha, porque tanto faz. Podemos agir de uma forma incomum em público, porque tanto faz. Mas veja bem, não é um tanto faz do tipo "Ah tá tudo uma merda mesmo então vou largar pra lá", é um tanto faz do tipo "Hoje estou sem tempo ou sem vontade de fazer isso, amanhã volto ao meu normal". É importante que amanhã você volte mesmo e não se entregue, que tenha sempre o melhor de si mesma. Aliado a isso é redescobrir novas possibilidades e a gente redescobre, eu tenho descoberto, é só ter olhos de ver. Nunca abandonei os valores da mente, do espírito e hoje parece que isso cada dia tem mais importância, tanto em mim, quanto nos outros.

E para terminar esse post, tenho a dizer que ainda olham para mim na rua... rsrs. Não tanto quanto eu gostaria, ou quanto já foi um dia, mas ainda olham... rsrs.

domingo, 1 de setembro de 2013

51 anos...



(O encosto da cadeira se fundiu com a minha blusa preta e estou parecendo mais gorda. Relevem, pois não estou gorda e gostei dessa foto... rs)
Até então nunca me senti à vontade para dizer a minha idade na internet. Mesmo que na vida cotidiana diga naturalmente. Acho que porque na internet as pessoas imaginam demais, e a pessoa estando presente a coisa é diferente. Então ficava pensando que ao dizer que tenho 51 anos,  iriam logo imaginar uma senhora de cabelos brancos, com chinelões, sentada numa poltrona,  coisa que hoje em dia, sabemos que quase nenhuma mulher de 50 segue esse estereótipo, que ainda se perpetua no inconsciente coletivo.

Geralmente aos 30 anos a mulher sente pela primeira vez que um dia  vai envelhecer, mesmo que ainda não saiba que está muito longe disso. Aos 40, no geral, a mulherada entra no desespero e quer correr atrás do tempo perdido, tudo fica urgente. Mas te digo que aos 50 a gente começa a relaxar e ver que não existe só coisas ruins em envelhecer. 

Aos 50 a gente tem nossa vida profissional e financeira estruturada, muitos já tem seus filhos criados. A aposentadoria não precisa mais ser vista como um fim, mas como um recomeço. No meu caso, daqui a 3 anos, quando me aposentar, pretendo finalmente fazer algo que realmente goste, coisa que nunca tive oportunidade de fazer no âmbito profissional. Acordar pela manhã e sair para estudar, ou trabalhar em algo que me de prazer e não apenas pelo sustento. Aos 50 a gente já sabe que nem tudo que a gente quer ou luta vai conseguir, mas podemos descobrir novas formas de realização. Aos 50 a gente já não liga mais se apareceu mais cabelos brancos ou uma ruga a mais. Parece que isso não tem o mesmo peso dos 40. Aos 50 a gente percebe que existe um maravilhoso botão chamado "foda-se", que pode ser apertado mais e mais vezes, conforme os anos passam.

Apesar de admirar imensamente quem sabe envelhecer, quem aceita as marcas da idade com naturalidade, isso não se passa ou não se passou de forma tão branda para mim. Acho que sou vaidosa demais e luto um tanto contra as marcas da idade. Mas aos 50 parece que isso deixa de ser uma obsessão para ser só apenas uma maneira de cuidar de si. Estranhamente começo a sentir um outro prazer que é o acumular de experiência, de ver a vida de forma mais tranquila, mais distanciada, sem tanta urgência, ou sem tanta expectativa. É como se de repente a aparência que todos valorizam o tempo todo, deixasse de ser tão importante e outros valores vão se apresentando para mim. Mas não é um processo fácil e nem se acorda assim da noite para o dia. É um pouquinho a cada dia, daí um dia você se dá conta de algo mudou. E acho que esse dia chegou para mim.  Talvez por isso me sinta à vontade de dizer minha idade hoje, aqui, mesmo sabendo que o estereótipo da senhorinha de cabelos brancos, seja mais forte que a foto acima... rsrs. Mas lembram do botão do "foda-se" a que me referi mais acima? Então, acabo de apertar mais um... rs.

A única coisa que lamento em relação à juventude, é que não pude vivenciar as experiências de uma mulher jovem,  vivi a vida de um gay jovem, mas não sei o que é ser uma mulher fisicamente jovem, quando finalmente me vi num corpo feminino, vivendo uma vida plenamente feminina, já tinha 38 anos e logo veio a crise dos quarenta com a urgência de quem não viveu como mulher aos 15, nem aos 20, nem aos 30. Dos 40 aos 50 vivi uma busca desesperada por esse tempo que não vivi da forma como gostaria.  Mas sinto que agora aos 50, uma calma começa surgir dentro de mim. Não sei bem para onde ela vai me levar,  onde vou chegar nesse novo caminho, mas estou gostando dessa brisa nova que sopra em minha vida.

P.S.: Como tem pessoas me dando parabéns pelo aniversário, hoje não é meu aniversário... rsrs