domingo, 15 de setembro de 2013

Não faço parte de...



Um dos temas do Saia Justa da semana que passou foi sobre inadequação. E sempre tiro alguns dos meus posts de programas que assisto ou textos que leio. Não creio que a palavra inadequação seja mais apropriada para definir o que sinto, acho que inadaptação tem mais a ver. Sempre me senti não pertencendo a grupo nenhum, mesmo que alguma característica em mim me colocasse dentro de algum grupo, mas, no meu íntimo e na vida, sempre fui um bicho solitário em essência.

Acho que muita gente se sente assim, meio que fora do contexto geral, mas muitas outras se sentem bem encaixadas e certamente sentem que estão pertencendo a alguma "tribo", grupo, segmento da sociedade. No entanto a parcela que se sente inadaptada não é pequena, embora só alguns realmente fiquem visíveis, como é o caso de muitos artistas, que escolhem a arte como forma de expressão e busca de aceitação para suas estranhezas.  Mas a verdade é que muitos dos que sentem não pertencer a lugar algum, sofrem com isso e não são recompensados com nenhum glamour.

No meu caso, não só a questão de ser transexual fez com que me sentisse uma estranha no ninho, mas colaborou bastante nesse sentido. Sei que muitos vão dizer que é besteira o que vou dizer, que sou uma mulher plena e tal (outros já acham que nunca serei uma... rs), mas a real mesmo é que não me sinto plenamente mulher no todo, embora tenha um corpo muito próximo do corpo de uma mulher, tenha uma vida feminina e uma mente feminina. Mas só isso não basta, falta o contexto de vida onde nunca fui inserida, não somos só o nosso presente,  somos o somatório de tudo, inclusive do nosso passado, que diz muito de como estamos hoje em dia. Sempre estive no limbo entre o masculino e o feminino. E a todo momento emocional, físico e de relacionamento, sempre tem uma situação por menor que seja que me lembra que esse limbo vai sempre existir. Começa pelo corpo; sei o que é ter um corpo plenamente masculino, mas não tenho o jeito de pensar dos homens, muita de suas atitudes e comportamentos me são estranhos. Já as mulheres, entendo a linha de raciocínio feminina, afinal sou mentalmente mulher, mas não entendo o corpo feminino, não sei como ele funciona. Tudo isso colabora para me coloca num limbo mental, não pertencendo completamente a nenhum dos lados. Talvez eu pense mais como um gay, mas sei que também não tenho uma cabeça de gay, muitos dos comportamentos e atitudes gays me são estranhos, do mesmo jeito que sinto em relação aos homens e às mulheres héteros.

Mas creio que talvez o que mais pese nessa minha inadaptação ao mundo seja a minha forma de pensar, que é diferente das mulheres no geral, diferente dos homens outro tanto e pior, diferente da maioria das(os) transexuais. E por mais que analise não creio que isso tenha ligação direta com nada do que vivi, embora em alguns aspectos tenha pesado. Mas o ponto crucial é  eu ter mesmo um jeito muito peculiar de ver a vida, os relacionamentos e as pessoas. E esse "não fazer parte de..." esteve presente desde minhas bases, na família que fui criada.

O que a maioria sonha em ter geralmente olho com tédio, o que poucos pensam em ter é importante para mim. O que muitos acham inaceitável, acho normal, o que muitos acham o certo, acho uma bobagem e por aí vai. Normalmente fico tentando me ver em situações que a maioria das pessoas dizem que é o máximo, super legal e por mais que me coloque ali, simplesmente não vejo graça alguma. Já em outras coisas banais que passam despercebidas para a maioria, ali está meu interesse. E aliado a isso tem um cansaço do desencaixe. Queria muito ver graça no que todo mundo acha interessante e divertido, queria dessa forma me inserir, pertencer a alguma tribo, mas por mais que tente é só frustração. 

Então de uns tempos para cá eu tenho chegado a conclusão serena que sou alguém que nasceu para caminhar em carreira solo mesmo. Sinto falta das pessoas, mas ao mesmo tempo elas me cansam muito. É estranho demais, tem momentos que busco a companhia dos outros, para logo em seguida buscar a solidão. É como se estar em contato com os outros me mostrasse o quanto não pertenço a lugar algum, daí eu retorno para mim mesma. 

Daí devem estar pensando que sou uma louca atormentada por todos esses pensamentos desencontrados. Mas a verdade é que não sofro tanto no meu íntimo atualmente, sofro só quando quero estar inserida e não consigo. Mas quando estou só comigo mesma, parece que isso é suficiente. Não que me baste, mas é que depois de tanto tentar buscar um grupo e não se sentir pertencendo a nenhum, a gente se  acostuma a viver só de uma forma que muita gente não consegue imaginar. A gente aprende a não sentir falta.

Sei que algumas pessoas não gostam quando faço posts desse tipo, onde exponho minhas feridas, até porque quando a gente expõe, volta e meia aparece um para cutucar... rs. Mas é que tanto aqui quanto na minha vida cotidiana as pessoas tendem, pela minha história de vida, a me ver como uma pessoa altamente bem resolvida, mas na verdade nada vem fácil, o movimento de todos nós é o de tentar aceitar o que não podemos mudar, sempre e sempre. E definitivamente até hoje não conheci alguém que fosse totalmente bem resolvido, acho isso uma grande fantasia, uma ilusão total. Todos temos nossas neuras e dificuldades e não vejo problema nenhum em assumi-las. É isso que nos torna verdadeiros e humanos.

29 comentários:

  1. Eu te acho bem resolvida, no geral. E o fato de vc dar a entender que não precisa de ninguém, já assusta muita gente. É isso mesmo : pessoas carentes assustam e pessoas altamente desapegadas também assustam os homens. Conclusão : Os homens se assustam com tudo ! Rs

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    1. Adorei! Os homens realmente se assustam com tudo. Impressionante... rs

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  2. Gostei muito de sua reflexão [como sempre muito pertinente e inteligente] ... inadequação, inadaptação ou seja lá qual termo q se use, é uma característica de todo ser humano ... isto gera angústias e incertezas traduzidas por carências ... o lance é cada um aprender a lidar com as suas ... de alguma forma eu aprendi a lidar com as minhas e, neste contexto, me considero muito bem resolvido ... como sou uma pessoa q pouco me lixo para o q acham ou pensam de mim, sigo e caminho assim ... faço o q quero, da forma q quero, na hora q quero, no lugar q quero ... quem não gostar q se foda ... ninguém cuida de mim, não me alimenta, não trata da minha saúde, não paga as minhas contas ... por isto meu #phoda-se está sempre em #mode on ... não sou o fodão ... tudo isto eu conquistei a custa de muita luta e superação ... não é fácil mas é possível ... por isto, qdo vejo pessoas mais novas sempre procuro dar o meu testemunho sobre esta forma de viver e encarar nossos desafios ... não adianta muito pois o ser humano só aprende apanhando ... então deixo de lado meus testemunhos e considero minha missão cumprida ... o resto fica com cada um no seu devido tempo e com suas escolhas ...

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  3. Super me identifiquei com esse post. Sempre me senti assim. Sempre fui sem tribo, a excluída no colégio, pq a diversão das meninas na adolescência era ficar passando maquiagem e os meninos jogar bola. Então eu nao me misturava c os meninos por medo do julgamento e nem das meninas pq aquilo não era divertido pra mim. E hoje depois de adulta, ainda continuo me sentindo assim, totalmente aleatória!

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  4. Não acho que você seja atormentada.

    Eu, pelo menos, estava pensando ontem, quando estava me preparando para dormir. Me sinto à parte de tudo. Tanto em pensamentos, objetivos, modos de se portar, enfim... Sei que também não me esforço para adentrar em um grupo. Mas, pensando bem: para quê vou seguir pessoas que não tem nada a ver comigo? Apenas para não me sentir sozinha?

    Prefiro a minha companhia mesmo. Não me sinto inadequada, apenas acredito que os modos de pensar são completamente diferentes. Ainda bem que não me sinto na obrigação de pertencer a determinadas vertentes.

    Passando tanto tempo sozinha, percebi que aprendi a gostar da minha companhia. E, infelizmente, quando estou acompanhada de alguém, fico ansiosa para o tempo passar e eu ficar sozinha novamente.

    Sei lá! Prefiro não entender.

    Beijos

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  5. Bem,não vejo problemas em não se enquadrar em nada,pq precisamos sempre fazer parte de uma tribo?Ah,sim,pra sermos aceitos socialmente..Há muitas formas de ser feliz,pra alguns é preciso estar no meio de uma multidão,pra outros é melhor estar sozinho..whatever,cada um tem que achar seu próprio jeito,mesmo que não seja o jeito "usual",ou o que os outros achem normal..eu já fiz parte de tantas tribos,já tentei me relacionar em tantos meios,já me senti incluida,já me senti excluida,hj já consigo apertar o botão do Foda-se,mas demorei,rssss...vc me parece muito bem resolvida, e teus posts são sempre tão bem escritos,gosto de refletir sobre eles..

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  6. Já me senti assim. Fora do mundo. Pertencente a nenhum grupo ou tribo. Sofri muito, pois queria fazer parte de qualquer jeito a um gueto. Hoje não penso mais nisso. Estou fora de qualquer padronização ou inserção de grupos estereotipados. Sou simplesmente eu. Prefiro ficar assistindo as movimentações e manifestações dos pequenos grupos como se eu fosse um telespectador. Não sofro mais!
    Para variar texto magnifico DAMA DE CINZA. Beijos!!!

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  7. Quem de nós não se sentiu vez ou outra ou vez em sempre inadequada ou inadaptada?
    Dificil quem diga que não!
    Eu mesma como sempre, achei muito no seu post da minha maneira de ser. "Nasci para viver em carreira solo". Esta também sou eu.
    As amizades (reais ou virtuais) que tenho raramente me veem por um longo tempo. Vez ou outra, dou uma saída à francesa. Só nossa mente consegue realmente nos colocar a vontade e sustentar nossas neuras(as minhas pelo menos).
    Eu, comigo mesma! É isso. No mais, só o que carrego comigo.

    Excelente texto.

    Beijos Cris

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  8. Complicado mesmo amiga Dama!

    Mas, mesmo quando pensamos não pertencer à grupo algum, ainda sim, estamos inseridos em algum grupo. Não tem como, por mais que não queiramos.

    Eu já cheguei à pensar que não faço parte de nenhum grupo, aqui em minha cidade, e depois, não teve jeito, me vi encaixado no grupo dos polêmicos, etc...

    As vezes por termos certas opiniões, e as mesmas serem fortes, nos rotulam. E lá vamos nós, mesmo sem saber ou querer, pertencer à certos grupos, que nem sempre escolhemos, mas que nos rotula ou encaixam.

    Beijos na alma meu anjo, e seja sempre bem vinda todos os dias ao seu grupo de mundo particular, como tantos outros estão sendo inseridos ou inseridas todos os dias.

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  9. Achei muito bonito isso que você falou sobre "como é o caso de muitos artistas, que escolhem a arte como forma de expressão e busca de aceitação para suas estranhezas."

    A arte deixa as pessoas respirarem quando estão mais sufocadas, principalmente se estão sufocadas em si mesmo.

    Você é mulher como qualquer uma, a diferença da maioria é que não tem útero e não menstrua, só isso. Mas a minha também tirou o útero e os ovários e não menstrua mais, e acho que, sinceramente, ela está muito bem assim. E claro, você já passou por tanta coisa na vida, obviamente não vai pensar como a maioria pensa. Só quem sofre nesse mundo consegue pensar além, e talvez o ônus disso seja essa "solidão".

    Ao menos é o que eu acho.

    Abraço,

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  10. Hum interessante esse teu post. Eu tenho momentos que me sinto parte de algo e momentos que não. Mas acho que isso está mais dentro da gente do que tudo viu.

    Beijos

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  11. O fato é que muitos já se sentiram assim em algum momento de suas vidas...

    E a grande verdade... Alguém já disse: ninguém é uma ilha! O ser humano foi feito para viver em sociedade... só assim aprendemos sobre nós mesmos!

    Estamos nessa eterna busca...e uma das etapas é a auto exposição
    das nossas neuras e dificuldades!

    Ler seu texto é como estar diante do espelho!

    Grande beijo

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  12. Dama:

    Já percebeu que pessoas que pensam demais costumam sofrer mais porque espantam uma maioria que tem uma preguiça absurda de fazê-lo?rss

    Pensar demais já me faz entrar na cota dos excluídos...hahahaha.

    Amos teus posts (pravariar..rs).

    Beijo e linda semana.

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  13. Verdadeiros e humanos, somos assim querida Cris...faço minhas tuas palavras, quanta lucidez, quanta dúvida, vivo num limbo também, quando escrevo sobre, ou tento rs, geralmente fica um texto parecendo depressivo, enfim...mas não é o que leio aqui, e vejo um lindo ser humano se desnudando, gritando, eu vivo, eu sinto, eu sou...mas como disse o blogueiro Edilson, pensar é algo que tá fora de moda, e nossa humanidade também acaba ficando fora de moda, infelizmente.
    Querida Cris, amei, amei muito este post, tou respirando um pouco mais aliviado, que eu não sou um et por pensar como penso, por me questionar, e principalmente pela solidão que escolho todo dia, que fujo todo dia também
    ps. Meu carinho meu respeito minha admiração e meu abraço.

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  14. Que bom que não se enquadrar não lhe atrapalha...

    :P

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  15. Boa noite Cris.
    Para mim foi uma honra ter encontrado um blogue tão lindo e especial. Existem muitas pessoas que estão se sentindo um peixe fora d´agua, estranhos no mundo. Eu também sou assim, mas encontrei nas minhas poesias, uma forma de de expressar, de dizer ao mundo q não sou apenas um homem maquina, um filho do capitalismo, mas um ser humano sentimental e as vezes chorão, rs! Nesse universo dos blogues, encontramos pessoas do bem, que tem ideias parecidas e que nos tiram da solidão as vezes. Ja estou te seguindo, pois quero ser teu amigo, e manter atualizado das suas publicações. Se você gostar de poesias, visite o meu humilde e simples blogue, que é:

    http://gagopoetico.blogspot.com.br

    Grande abraço,
    Fike sempre na paz!

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  16. Cris, então somos duas em carreira solo...rs... às vezes, chego a pensar que sou um ET (sério!), tamanha a minha falta de identificação com tribos e com o que os outros acham "normal"... e a cada dia me entendio mais e mais com as pessoas.

    Gosto de ficar quieta, só, na minha... e isso parece um pecado né. Parece que tenho a obrigação de querer estar inserida em algum grupo ou em algum relacionamento...

    e eu gosto dos seus posts "humanos" ;)

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  17. Dama, o ermo também me habita!
    Achei que com a maternidade, eu fosse pertencer ao grupo das mães. Fui banida, ou eu mesma me bani. Nunca fiz festa de aniversário para meus filhos. Motivo suficiente para não pertencer!
    É difícil pensar diferente. Prefiro seguir assim. Hoje já aprenderam e respeitam minhas decisões solitárias, tipo festas de final de ano: compro roupas novas, presentes e faço a mala das crianças. Eu fico só e me sinto bem assim.
    E este post foi ótimo. Viu quanto ermitão tem por aqui?!
    Beijo

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  18. Eu amo o GNT tudo o que eles apresentam, tudo! aqui claro que nao tenho e sinto falta, entao vejo algums coisas pelo site deles :-( GNT era o unico canal que eu assistia no Brasil, ja que detesto TV.

    Dama, acho vc mt em paz, e tbm sei que isso vem com o tempo, nao é algo que vamos entender qd somos adolescentes, e vc sinceramente, passou por situacoes nunca imagináveis pela maioria de nós. Em todos os sentidos, te considero uma pessoa super corajosa, daí talvez venha esse sentido de "inadequacao" que tbm nao deveria ser interpretado dessa maneira, ja que é mais ou menos uma escolha sua.

    ne?
    mas olha, eu adoro uma pitada de solidao, mas tem que ser assim como vc menciona, qd a gente quer ela por perto e nao qd ela é imposta.
    Bjs querida

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  19. Me identifiquei muito com o que você falou, eu sempre me senti um peixe fora d'água por ser gay numa sociedade patriarcal, ser um gay 'diferente' do estereótipo que a sociedade imagina da classe, não desejar coisas comuns como casamento, filhos etc. Acho a solidão algo extremamente importante. Acho que no fundo não sofro por não me encaixar. Não ligo mais como você mesma disse e isso que vem me preocupando: não ligar mais.


    Abraços

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  20. Cris, desde o dia que você postou e eu li, não comentei pois não tinha o que comentar, fiquei pensando e só consigo chegar a uma conclusão: de certa forma eu sou como vc.
    Sou mulher, mas muitas coisas de mulher me irrita. Gosto de homem, mas não tenho paciência para as atitudes de muitos homens. Onde eu entro?
    Outro dia comentei por aqui que me sentia invisível. Escrevi lá no blog que todo mundo me paquera, e vc disse que ainda bem que não acreditou no que eu escrevi aqui. Mas sabe onde eu não consigo entender: Se todo mundo me paquera, o que acontece para que ninguém fique comigo, ou tenha interesse em me conhecer. Eu adoro seus textos desde sempre pois sempre me faz refletir muito, mas tô pirando a quase uma semana por não chegar em conclusão alguma rsrs

    Bêjo

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  21. Dama,não vejo problema nenhum em te expor, aqui é teu espaço e se te visitamos é porque afinidades existem. E lendo teu texto hoje, me encaixei em vários momentos e engraçado porque justo esta semana estava pensando muito como ando num limbo existencial em vários aspectos. Ando cansada de estar cansada... se por um lado quero me resignar por outro mais forte sei que não é da minha natureza a acomodação. Então saiba, se te ajuda, que muito limbos existem por aí, vestidos de vário modelos.
    Um bjo

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  22. Oi, Cris!

    Seus textos estão cada vez mais refinados e bem elaborados.

    Lendo eu achei incrível isso. Mesmo eu sendo uma mulher comum, também não consigo me encaixar em nada que a maioria se encaixa.

    Poucos compreendem meu jeito de ser. Nem sempre posso dizer tudo o que penso e me doía muito o fato de ter de ser formal para não machucar as pessoas.

    Pelo que passei as pessoas também imaginam que sou muito forte. Só que não.

    Me encaixei em diversas partes do teu texto.

    "E definitivamente até hoje não conheci alguém que fosse totalmente bem resolvido, acho isso uma grande fantasia, uma ilusão total. Todos temos nossas neuras e dificuldades e não vejo problema nenhum em assumi-las. É isso que nos torna verdadeiros e humanos."

    E quando eu descobri que ninguém é feliz totalmente e plenamente, deixei de me cobrar tanto.

    Beijos!

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  23. O importante é que você esteja bem consigo. Se você sabe viver assim e gosta, é isso que importa e dane-se o resto!

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  24. "E definitivamente até hoje não conheci alguém que fosse totalmente bem resolvido, acho isso uma grande fantasia, uma ilusão total. Todos temos nossas neuras e dificuldades e não vejo problema nenhum em assumi-las. É isso que nos torna verdadeiros e humanos."

    Pois é, Dama. Com frequência, me pego a pensar que, por mais que eu me dê bem com os meus amigos, cada um parece se encaixar num padrão, num grupo, enquanto eu consigo passear por todos os grupos, sem ser de fato de nenhum. É bom e ao mesmo tempo ruim. Porque eu me sinto deslocada, às vezes. Converso e me dou bem com todos, mas não me encaixo em nenhuma tribo. Acho que sou uma cidadã do mundo, sem rumo, sem ponto de chegada, sem porto seguro. Acho que deve ser isso. Sei lá. Sei que, como disse a Aline Pacheco, "o importante é que você esteja bem consigo...".
    É o que eu tenho buscado.

    Sacudindo Palavras

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  25. Oi Dama de Cinzas, eu passei a maior parte da minha vida com sentimentos de inadequação. Isos me trazia muita angustia e sentimento de injustiça. Os motivos são vários e ficaria um post longo.
    Mas quando eu me dei conta do mundo que me oprimia, do quanto somos pressionados para nos adequar a um padrão de comportamento que eu não queria pra mim. Foi aí que eu despertei para a origem de todo o meu sofrimento e passei a lidar melhor com isso.
    Era muito ruim, por exemplo, ouvir meus ex-sogros por exemplo, dizendo que eu não era boa, que eu era isso e aquilo, chegaram a dizer que eu destruiria a vida do filho deles, só porque eu não me submetia aos caprichos dele. Só depois de entender que eles eram machistas, que eles queriam alguém que reproduzisse isso na família deles e não que rompesse, que eles idealizaram para o único filho deles eram uma dona de casa bajuladora com baixa autoestima, que tudo fez sentido pra mim e pulei fora.
    Isso daria muito pano pra manga... Mas guardo altas mágoas da época que eu não entendia porque isso acontecia e sobre como o fato de ter feito escolhas diferentes faziam as pessoas reagirem como se eu fosse ruim, inadequada, etc. etc.
    Ótimo post!

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  26. Há tantos tipos de limbo! Também sou um estranho no ninho. E me isolo, muitas vezes, para conseguir conversar comigo mesmo. Às vezes vejo as pessoas como tubos digestivos ambulantes, e às vezes como seres pensantes. Não faço parte de grupo nenhum; apenas vou andando, grudado à minha sombra, sem saber ao certo o que eu sou. Volte a postar, pois o mundo precisa de pessoas com a sua coragem!

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  27. Por sorte eu abri esse blog e na primeira frase "Não faço parte de.."resolvi continuar a ler.Mesmo não sendo transsexual,eu me senti você enquanto lia,todas as suas lamúrias e desabafos foram palavras de alivio pra mim,por que sinto o mesmo que você,não faço parte de nenhum grupo,sou eu e mais eu apenas,desde nova procuro a minha tribo,o meu lugar.As vezes busco as pessoas,preciso de conviver,me relacionar,mas depois enjoo rápido,me canso dos assuntos,de tudo,e percebo mais uma vez que ninguém foi feito pra mim,necessito das pessoas temporariamente,por alguns momentos,e depois me recolho dentro de mim,volto pro meu esconderijo e proteção,que é estar sozinha.Sou uma pessoa que preciso mudar constantemente,tanto em relação a minha personalidade,ambientes,pessoas,sobrevivo com o movimento da vida,as coisas instantes e novas,não sei viver de forma estável,não sei amar a mesma pessoa todos os dias e busco sempre o que ainda não veio,o futuro,a esperança de um mundo melhor e a busca por algo inexistente que acredito existir.Me considero tão fora da sociedade,do mundo atual,meus gostos são outros,meus sonhos são outros,me interesso por pessoas que não fazem parte do meio meio,e nunca encontro as respostas das minhas perguntas ou a causa dos meus sofrimentos.Parabéns pelo texto,você soube se expressar muito bem e conseguiu entender e expor o que se passa dentro de mim e como me sinto quase todos os dias.

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  28. Creio que posso lhe entender, Dama. Tenho 22 anos e durante toda minha vida tentei de alguma forma me adequar ao contexto ao qual estava inserido e fiz isso de várias formas e lugares, por exemplo, tive de me adaptar ao jeito de alguns colegas de trabalho dominantes quando eu era um mero jovem aprendiz para sobreviver naquele meio. Agora, no que diz respeito à minha sexualidade e vida social sempre tentei me adequar (ou adaptar) ao universo masculino. Tentava gostar dos papos debatidos entre os heterossexuais, tentava entender o seu mundo e suas escolhas e era quase sempre frustrante, ou seja, era algo que eu almejava porém não me identificava. Por exemplo, detesto futebol e até tentava participar de algumas conversas sobre o tema, mas detesto, de verdade. Apenas agora que estou passando a me aceitar como sou comecei a rejeitar certas coisas às quais eu me esforçava para gostar e no entanto não partia de mim de forma natural. Claro, esse sentimento de inadequação nunca acaba, talvez atenue, porque por mais que nos aceitemos como gays, lésbicas, travestis ou transsexuais sempre teremos arraigados nossas primeiras experiências. Belo texto!

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Eu sempre vou respeitar sua opinião, mesmo que não concorde com ela. Então, por favor, respeite a minha!

Comente com civilidade!

Se seu comentário foi recusado, certamente a explicação está aqui:

http://confissoes-femininas.blogspot.com/2011/07/comente-com-educacao.html