
Só esclarecendo, devido a alguns emails que recebi, os posts das blogueiras convidadas não foram "encomendados" por mim. Cada uma escolheu o assunto e escreveu seu texto sem nenhuma interferência minha. Optei por não comentar as postagens, para deixá-las completamente livres. Portanto, como as opiniões, posicionamentos e termos contidos nos posts são delas, posso concordar ou discordar, mas vou respeitá-las como minhas convidadas.
Dessa vez a blogueira convidade é a Liana. Desde que fui ao seu blog, percebi seu jeito ácido, direto, por vezes duro de dizer as coisas e gosto disso, prefiro pessoas assim, do que gente muito fofinha, muito guti guti, que me dá tédio. O blog dela é: Life is a Drag.
LIBERDADE
Exceto pela aparência, não sou o tipo “rainha do baile”. Nunca quis ser. Não faço questão de ser popular e agradar a todos. Sou eu, faço o que for bom pra mim, ajo de acordo com o que acredito, procuro as pessoas quando sinto vontade... em suma: faço o que quero. E pago o preço por ser assim.
Não por acaso, quase todos os meus amigos são do sexo masculino – heteros e homos. Mulher não convive muito bem com o fator liberdade, muito menos se vier adicionado ao fator beleza. Acho que também, não por acaso, as poucas amigas do sexo feminino que tenho são lindas e seguras de si, não vivem em função de homem e também têm mais amigos do sexo oposto.
Não me incomoda quando um macho chega questionando porque não casei, não tenho filhos e coisas do tipo. O que de fato me incomoda são mulheres virem com estes questionamentos. Por acaso sou obrigada a ter marido e filhos? Não posso estar bem e feliz sem isso? Não posso ser uma pessoa completa sem precisar me encaixar no que seria o socialmente desejável? Machismo vindo de homens é horrível, mas quando parte de outras mulheres consegue ser pior ainda.
É aí que pessoas como eu pagam o preço. Ser livre e fazer o que se quer, como se quer, na hora que se quer, custa caro. Ter passado dos 30 anos, aparentar 25 e viver livremente como se tivesse 20 não é fácil, não é simples... e não abro mão disso. É uma batalha diária da qual talvez um dia eu canse: por enquanto, quem se cansa são os outros.
Não adianta querer que eu seja como a maioria das mulheres solteiras da minha idade e fique em casa deprimida me achando um lixo por ser solteira: sim, é isso que as pessoas querem que uma mulher solteira com mais de 30 anos se sinta, um lixo, uma leprosa (infelizmente, a maioria acaba se sentindo assim). O que incomoda aos outros – principalmente às outras mulheres – é o fato de que me sinto exatamente o oposto disso: poderosa. Como tal, livre pra fazer o que eu quiser. E faço. Liberdade incomoda... o preço que se paga por praticá-la é ver pessoas se afastarem... o que se ganha é ver pessoas se aproximarem. Acho que, no fim das contas, vale à pena.
Fazendo uma confissão bem ácida: o que me deixaria deprimida é estar como várias pessoas da minha idade que conheço, presa no comodismo de um casamento falido qualquer, com filhos, embarangada, aparentando ser bem mais velha, sem vida além das palavras “mãe” e “esposa”. Pra mim, se estas duas palavrinhas um dia fizerem parte do meu vocabulário, que seja para somar e melhorar o que já está bom, não para me encaixar no que seria socialmente aceito.
Finalizando:
- Ela é tão livre que um dia será presa.
- Presa por quê?
- Por excesso de liberdade.
- Mas essa liberdade é inocente?
- É. Até mesmo ingênua.
- Então por que a prisão?
- Porque a liberdade ofende.
Clarice Lispector*
*trechinho do livro "água-viva" da Clarice
P.S.: Sou meio esquizofrênica e tenho várias personalidades... uma acadêmica, uma blogueira, uma dançante... vai aí o link do blog da minha personalidade bailarina pra quem quiser conhecer: http://ayladv.blogspot.com/